LOOK ME TENDER HOMMER


Não importa que você tenha pouco dinheiro ou possua poucas coisas,
se tiver um cão você é rico.

Louis Sabin


Lovely LomelyHommer, nosso cãozarrão de estimação (meu e da minha Gi), era um Basset Hound muito bonito. Para comer, adorava pão de queijo (ficava de plantão perto do fogão quando uma fornada estava para sair, vê se pode), pão francês, banana, caqui, frango, peru (aprendeu a abrir a geladeira só para roubar o peru de Natal), a ração canina Frolic e a [ração caseira] que a Gisele fazia. Churrasco (e os devidos ossos para roer) ele amava — nos dias de churrascada, era só montar a churrasqueira que o Hommer sabia que ia ganhar um filézão e então começava a latir e uivar de felicidade, deixando todo mundo constrangido!

Tinha mania de dormir escandalosamente (esta palavra combina muito com o Hommer e vai aparecer muito neste texto), de barriga para cima, pernas abertas, encostado em algum móvel, parede ou porta e muitas vezes, deu show na frente de casa coçando o traseirão gordo no portão de ferro, enquanto se expressava latindo ruidosamente — um vexame.

Ao contrário de mim, Hommer não gostava de bolinhas — mas adorava brincar com pão francês fresquinho: jogava-o para cima e para longe, latindo, diversas vezes, fazendo muito barulho por (quase) nada; só então pegava o pãozinho entre aquelas patuchonas gordas e comia com gosto. Achavam ele muito engraçadinho por isso, eu já acho que era pura exibição.

Quando filhote, era um tremendo arrumador de encrencas; chegou a comer a venenosa [comigo-ninguém-pode], cacos de louça (o prato quebrou porque ele estava perseguindo a Gisele por causa da comida, o que a fez derrubar a bandeja) e margarina direto do pote (que roubou de cima da mesa). Ficou com a cabeça entalada diversas vezes em um dos losangos do portão de ferro, fazendo um verdadeiro escândalo para que fossem tirá-lo de lá... era de se esperar que, depois da primeira entalada, tivesse aprendido a lição, mas não! Eu NUNCA fiquei entalado (não que eu esteja me comparando com o cachorro da casa, é claro).

Certa vez, à noite, estava correndo pelo jardim e não reparou que a terra firme acabava de repente (em um desnível para o portão e escada), caindo de uma altura de 1,2 m. Foi outro escândalo — até vizinho apareceu para ver o que estava acontecendo. Levado pra dentro, colocaram ele com jeito na cama, para que se pudesse ver o estrago — alguma fratura ou coisa assim. Ele tremia muito, mas logo sossegou. Então, de surpresa, pulou da cama feliz e saltitante. Não deu nem tempo de chamar o veterinário! Outra vez, muito barulho por nada.

Quando já adulto, fugiu uma vez, à noite; foi encontrado investigando os canteiros ajardinados da calçada da avenida que cruzava a nossa rua. Na praia, certa vez, fugiu de casa, disparando pela rua. Quase foi atropelado e fez 5 humanos correrem atrás dele feito loucos — foi muito engraçado!

Quando foi pela primeira vez para a praia, logo na chegada Hommer se interessou pelo cachorrinho da casa dos fundos, uma coisinha muito fofa. A conversa ia bem, até que os pais do filhote apareceram de repente e foram em direção ao Hommer que, berrando feito um filhote recém-desmamado, saiu correndo para se esconder dentro de casa! Engraçadíssimo!

prímulasHommer era um trator — passava por cima do que estivesse em seu caminho, sem pedir licença, com a palavra a nossa gata Bonequinha; a coitadinha deve pensar até hoje que foi atropelada por um caminhão! Quando a grama era cortada e o jardim varrido, ele passava no monte de lixo e espalhava tudo pela calçada de novo... (aqui tenho que admitir que ele estava meio certo, pois sempre passava pela calçada, nunca cortava caminho pela grama; ele só pisava na grama quando ele queria estar na grama, entende? Então eram o lixo e a gata que estavam no lugar errado...). Uma vez, subiu na jardineira e, delicadamente, pisoteou as prímulas recém plantadas. E era um cachorro muito distraído, pois chegou a ficar fechado na garagem e na lavanderia — naturalmente, fez um escândalo e foram acudí-lo. Eu quando ficava fechado em algum lugar, ficava quietinho esperando até que sentissem minha falta e viessem me buscar (não que eu esteja me comparando com o cachorro da casa, é claro).

Hommer era um grande caçador... de moscas. Um dia, começou a rodopiar sem mais nem menos, pensamos que tinha enlouquecido — até percebermos que estava atrás de um mosquito! Já em relação aos gatos da casa (Bonequinha, Piçarrense), ele sempre foi gentil e carinhoso com eles — exceto aquela vez em que ele passou por cima da Bonequinha, é claro... mas ela nem se machucou nem nada, nem guardou rancor, pois gostava muito do Hommer. Ah, uma vez pegou um sapão (que nojo!) na boca, mas fizeram ele soltar o bicho rapidinho...

BrunoSonhava muito; latia dormindo, resmungava e mexia as patas como se estivesse correndo. Eu sei que no filme animado [As Bicicletas de Belleville] há um Basset Hound que faz a Gisele lembrar demais do Hommer: Bruno, o cãozinho de estimação  de Champion, neto de Madame Souza. Ele vive tendo sonhos mirabolantes e é muito gordo e barulhento! Tem uma cena em que Bruno come de sua vasilha e, guloso como é, a empurra pela cozinha até deixá-la limpíssima; Hommer fazia a mesma coisa... Outra característica de Bruno é a mania dele de subir na cama da vovó Souza e na de Champion e deitar-se em cima deles... Hommer fazia o mesmo! Se ele consseguisse subir na cama, dava um jeito de colocar aquele traseirão gordo em cima da gente mesmo se tivesse espaço sobrando!


Pedigree não significa nada, um viva!
para os sem pedigree!!!

Como todo Basset Hound, Hommer era teimoso. Bassets não são do tipo de cachorro que você chama e eles vêm correndo, com o rabinho abanando, obedientes... Além disto, havia um outro problema, ele era meio enfezado, não gostava muito de carinho, de que pessoas passassem a mão nele (rosnava, mas não mordia — nunca mordeu ninguém, nem gatos — avisando para deixá-lo em paz); na verdade, ele costumava me morder: diversas vezes Hommer brigou comigo sem motivo nenhum (como acordar de repente e pular em cima de mim, ou eu encostar nele sem querer), machucando minhas orelhas; minha Gi ficava muito triste quando isto acontecia.

vovô
                    Honoré - vai encarar?Na sua nobre linhagem, havia dois cães com problemas comportamentais, fora do "padrão": sua mãe, Blanch Mallerin of Green Bush, que também rosnava quando se passava a mão na cabeça dela (foi a Gi quem me contou, aconteceu na única vez em que ela viu a Blanch) e seu avô paterno, Honoré FB Montmorency, que também era bravo, genioso, até que conseguiram domá-lo; leia artigo que saiu na revista Cães e Companhia # 79 (1985):


Honoré é um cão conhecido por grande parte dos expositores do país. Filho de Tal-e-ho's Bentley e Fontana of Hipocampo's, suas características físicas são tidas como exemplares. No entanto, apesar da qualidade dos pais, com uma mudança de ambiente tornou-se um cão agressivo, totalmente contrário ao temperamento padrão dos Bassets.
Quando Gilberto Assunção, expositor e criador do canil Ilhas Negras, Curitiba, PR, adquiriu o animal, tinha consciência disso. Foi, porém, persistente e procurou recuperar sua boa índole, o que conseguiu, pois hoje Honoré é um cão calmo e foi recentemente o melhor cão de uma exposição especializada. Portanto, atenção: mesmo o dócil Basset Hound precisa de muita compreensão e carinho.
Títulos: Campeão, Grande Campeão Brasileiro, Campeão Sul-Americano e Campeão Internacional (até os 5 anos)


Além disto, vovô Honoré cruzou com Antonela of Green Bush, sua meia-irmã... ambos eram filhos de Tal-e-ho's Bentley, o Porter; a bisavó, [Big Long Blues Isabella], também era avó dele
(lnbreeding). Isto tudo talvez explique o comportamento "insano" do Gordinho, sei lá... a Gi me disse que Hommer e Blanch (ela nunca viu o Honoré) foram os únicos Basset Hounds em toda a sua vida que rosnaram para ela...

papai Roy - cadê a minha
            bolinha?papai Roy - que chato ficar fazendo pose...
A-Raeder's Astronaut Roybrook

Minha mamãe Sharise, por exemplo, era um doce... o pai do Hommer, A-Raeder's Astronaut Roybrook, também era uma simpatia, um grande camarada. Gisele me contou que ele adorava brincar de bolinha! Em plena exposição canina, o campeão Roy só se acalmava quando seu dono lhe dava a "coisa redonda" (como a Gi chamava a minha bolinha para me enganar, não chamar a minha atenção) para se distrair...

Anton



HOMMER
* 24/11/1986

15/07/2001


VOLTAR