Olá!


Meu nome é Anton e eu era um lindo [Basset Hound] tricolor. Bem, na verdade, as pessoas insistiam em dizer que era um cachorro, mas eu decididamente não concordo com tal afirmação — qualquer um que me conhecesse bem podia notar que eu era tão humano quando minha amada-idolatrada-salve-salve amiga Gisele!

Eu nasci no dia 2 de novembro de 1986. Minha mamãe Sharise morava perto da casa da Gisele e quando ela viu a mim e a meus 10 irmãozinhos (Alita, Annie, Agatha, Aloha, Aruanã, Agnes, Alfa, Auê, Atlas e Andrews) brincando no jardim (nós estávamos à venda, vê se pode), ela se apaixonou por nós; mas, entre todos aqueles filhotes, ela ME escolheu — ou será que fui eu quem a escolhi? Ah, e meu nome foi escolhido de uma lista feita pelos "proprietários" da minha mamãe; a minha Gi achou "Anton" muito lindo!

Cheguei na minha nova casa no dia 16 de dezembro de 1986 e era muito lindinho! Confesso que fiquei um pouco assustado por ter sido tirado de junto de minha mamãe e de meus irmãozinhos — quando a Gi me colocou no chão, para que eu entrasse andando no meu novo lar, me espalhei feito geléia e me fingi de morto; "pode me devolver já, já, que sou uma coisinha inútil que não vai funcionar!", eu estava querendo dizer. Tive que ser pego no colo de novo (e bastante mimado) para que me sentisse amado e seguro novamente. E na mesma noite, já estava brincando (e não deixando a Gi dormir...), feliz da vida; desde então, vivi uma vida muito boa!

25/12/1986 25 de dezembro de 1986

Meu apelido é Tijolinho porque, logo depois que cheguei na minha nova casa, eu estava brincando com a Gi e tocou no rádio uma música da época da [Jovem Guarda], [O Tijolinho], sucesso do cantor Bobby di Carlo — e também gravada pelo grupo [The Fevers] — que dizia "você é meu amorzinho, você é meu amorzão, você é o tijolinho que faltava na minha construção" e pronto... virei o Tijolinho dela!!! Mais tarde, começaram a me chamar também de Batatinha; deve ser porque gostava muito de batatas cozidas...

25/12/1986Eu gostava de comer, dormir e lat- falar. Meus pratos favoritos eram frango, peru, batata cozida e churrasco (quem me via com um osso podia ter até a impressão errada de que eu era mesmo um cachorro) e para sobremesa eu apreciava muito qualquer coisa doce, principalmente chocolate e doce de abóbora. Gostava também de leite e da [ração caseira] que a Gi fazia. Na minha primeira Páscoa, fui deixado sozinho no quarto por alguns minutos; em cima da cama, havia alguns ovos de chocolate. Quando a Gi voltou, parte deles estavam comidos... ela passou anos me acusando de ter subido na cama e ter avançado nos doces!!! Sabe, chocolate é um perigo para cães (pergunte ao veterinário, que ele vai confirmar!); minha amiga descobriu isto somente quando eu já estava velhinho e havia me entupido desta delícia minha vida toda; é claro que, como eu não sou um cachorro, nunca me fez mal...

Falando em passar mal, quando eu- quando o Hommer (o cachorro da casa) não se sentia bem, ele tinha o costume de comer grama ou folhas de amoreira; cachorros fazem isto frequentemente, para ajudar a digestão (a grama age como um irritante do estômago, provocando o vômito da comida indesejada)... e eles sabem qual planta faz bem e quais eles devem evitar — depois de adultos, é claro!

Eu detestava tomar banho, cortar as unhas, ficar sozinho e ir ao veter... oops, quero dizer, médico (Dr. Paulo Miranda é um ótimo médico, segundo minha amiga, mas eu não gostava daquelas agulhas todas...); passei por três cirurgias durante a minha vida na Terra, para retirar diversos nódulos que teimavam em aparecer no meu corpo.*

*O Basset tern predisposição a tumores nas glândulas sebáceas. São normalmente pequenas protuberâncias redondas na pele, que contém uma secreção oleosa, esbranquiçada. Tais cistos podem permanecer pequenos por um tempo e aumentar, ou ulcerar, e infeccionar. Nesses casos, a intervenção cirurgica é necessária. O Basset Hound (The New Basset Hound), 1993, Margaret S. Walton.

Eu realmente não gostava de água (só para beber): quando ia para a praia, tentava ficar o mais longe possivel do mar, apesar das incansáveis tentativas da minha querida amiga em me molhar...

A BolinhaMinha brincadeira favorita era procurar minha [bolinha de borracha] — olha ela aí do lado — e então me exibir com ela, desafiar a me tirarem da boca... Anton, saia já daí!isto quando jovem, porque depois de velhinho, eu já não me entusiasmava muito com a brincadeira, no final nem mais a reconhecia... Também gostava muito de subir em mesas quando era jovem — olha eu nas fotos aí, pego em flagrante delito. Não podia ver uma cadeira dando sopa, que a usava como abril 1989trampolim; problema é que depois de subir, não tinha cora- vontade de descer... uma vez fiquei um tempão esperando alguém aparecer para me ver descer por minha livre e espontânea coragem... a Gisele vivia ralhando comigo por causa desta minha mania, apesar de eu nunca ter roubado ou quebrado nada que por ventura estivesse na mesa!

Eu estava sempre grudado na minha querida amiga, sempre ao seu lado, até mesmo quando ela começou a navegar na Internet; eu AMEI a salinha do computador e não quis mais saber da minha caminha, fiquei dormindo lá por uns 15 dias... isso depois de ter uma crise de ansiedade, arfar feito louco largado no meio do corredor, até a burra da minha dona entender o que eu queria e abrir a porta, que à noite ficava fechada. Cadê o [dog whisperer] ou o [Dr. Pet] quando a gente precisa deles??? Ah, Gi, desculpe pelo desabafo...

Uma travessura que realmente fiz foi fugir de casa... eu não era muito aventureiro e nunca me atrevi ir muito além da calçada em frente ao portão, nas poucas vezes que ele foi, inadvertidamente, deixado aberto. Mas, certa noite (eu já era bem idoso), encontrei-o aberto e, examinando árvore em árvore, acabei no canteiro cheio de árvores e plantas da avenida que cruzava minha rua. Até darem conta do meu desaparecimento, se passou mais ou menos meia hora; fui trazido de volta e encontrei a minha Gi quase tendo um ataque cardíaco. A gente não pode nem dar uma voltinha pelo bairro que o apocalipse quase acontece!

Eu tinha um irmão adotivo — ou melhor, nós tínhamos um Basset Hound como bichinho de estimação! O nome dele era Hommer, Look Me Tender Hommer, e nós o trouxemos para casa em janeiro de 1987. Ele nasceu em 24 de novembro de 1986 e tinha 6 irmãozinhos; Hommer tinha um bom pedigree seus avós eram americanos. Na minha modesta opinião, ele era um Basset gordo e reclamão que babava demais e dormia demais (pode ver as fotos, ele está quase sempre dormindo nelas) — mas eu gostava dele assim mesmo! Hommer uivava assim "aúúúúúúúúúúúúúú" o tempo todo, ele realmente gostava de se exibir! E era meio tolinho — quando filhote, comeu a planta comigo-ninguém-pode de um vaso e passou muito mal! Nós o chamávamos de Lovely Lomely, Tijolão ou Gordinho. Ah, eu não tinha pedigree, mas a Gi me amava loucamente assim mesmo!

Por muitos anos, nós tivemos dois gatos: a Bonequinha e um gato preto e branco chamado Piçarrense. Nós (eu e Hommer) gostávamos muito dos dois! Ele costumava até dormir na barriga fofa do Hommer e eu me divertia coçando as costas dela...

Bem, vou ficando por aqui; meus amigos (e da Gi, muitos eu não cheguei nem a conhecer quando ainda estava na Terra) estão me chamando. Sabe, depois que subi aqui para o Céu (em 2001), voltei a brincar e a correr e a subir em mesas... assim vou vivendo feliz!

Abraços,

Anton Tijolinho



Anton
                    cute


Anton foi um grande amigo; eu agradeço a Deus por tê-lo tido ao meu lado por quase 15 anos — sendo mais precisa, 14 anos e 10 meses. Nunca me esquecerei dele e de tudo o que me ensinou durante todos os anos que passamos juntos.

Adeus Anton.

Saudades

Gisele

P.S. Com o passar dos anos, me dei conta quão maravilhosos são os cães; Anton, você não tem que querer ser gente, não; você é um CÃO, e o seja com ORGULHO! Como disse o seu xará [Anton Tchekhov]: Que grandes pessoas são os cães...

Lá no alto, nas cortes do Paraíso
Um pequeno anjo canino espera,
Com os outros anjos ele não brinca,
Fica sentado sozinho nos portões;
"Porque sei que minha dona virá", ele diz:
"E quando chegar, ela vai chamar por mim."

(The Little Dog-Angel)







Anton Tijolinho

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