Socorro!

o bueiro

Por volta da nove da noite, eu, Gisele, escuto um latido de um cão; penso que pode ser a cachorrinha do vizinho, já que os meus Bassets estão quietos dentro de casa. Como o latido não passa, abro a porta para conferir se é mesmo a minha vizinha canina — não é. E não é apenas um latido, é um uivo desesperado. Vou então até o portão e constato que a fonte do pedido de socorro está justamente defronte à minha casa — mas no escuro, não consigo ver direito o que está acontecendo. Então, minha mãe e eu abrimos o portão, atravessamos a rua e, para nosso horror, vemos que um cachorro está entalado no pequeno espaço entre a grelha do bueiro/boca-de-lobo e a sarjeta da calçada.

Para piorar, está chovendo; concluímos que o pobre animal estava passando na rua, escorregou, caiu no buraco e ficou entalado. São duas loucas na chuva, de sombrinha na mão, ajoelhadas na rua com a cara na sarjeta — é  como alguns motoristas devem ter visto a cena. Tentamos puxar o cachorro para fora, desentalá-lo, com medo de que, se cair, pode até morrer afogado. Colocando minhas mãos dentro do bueiro e tocando o animal, percebo de que se trata de uma cadela, entalada por causa da barriga cheia de filhotinhos...

Em pânico (eu, porque a cachorrinha, desde que a operação salvamento começou, parou de ganir), penso que não vamos conseguir tirá-la de lá e volto para dentro de casa para chamar... os Bombeiros!

Quando volto para a rua, minha mãe já conta com um ajudante — o vigia de um prédio próximo. Ele, mais calmo (e mais esperto) entende a situação melhor: a cadela não havia caído na abertura e sim estava tentando sair dela. O bueiro é o final de uma grande manilha, cuja abertura está no terreno baldio ao lado do edífício em que o vigia trabalha e deve ser um caminho costumeiro da cachorrinha — até que ela, prenhe, está muito gordota para passar pela abertura!

O que deve ser feito, ao contrário de puxá-la para fora, é empurrá-la de volta para dentro — e sem perigo algum de afogamento, pois dentro do bueiro há uma espécie de degrau um pouco abaixo do nível da rua. Além disto, a água da chuva caí fundo lá em baixo e escorre por outras manilhas, não havendo nenhuma possibilidade de afogamento, nem para um minúsculo ratinho...

Então, a Entaladinha é empurrada gentilmente para dentro e fica sentadinha no degrau, aliviada, e o vigia levanta a grelha. Neste momento, com alguns vizinhos já se juntando para ver o que estava acontecendo, chegam os BOMBEIROS! Explicamos a situação à eles, peço até desculpas por tê-los (na hora do pânico) chamado e — sempre muito gentis — Cabo Araújo, Fogaça e Júnior resgatam a Entaladinha do buraco. Vestindo uma blusinha laranja surrada, muito simpática e mansinha, a cachorrinha está salva! Fica algumas horas com o vigia, mas logo o deixa, com certeza ansiosa para voltar para seus donos...


PS. Numa situação destas, devemos tentar, a todo custo, manter a calma. Calma — mais uma simples lanterna — teriam ajudado a entender melhor a situação logo de cara, poupando o tempo (precioso) dos Bombeiros. Obrigada Cabo Araújo, Fogaça e Júnior!
 

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